Rubens Ianelli. Foto: Hildegard Angel |
Acabo de chegar de uma visita a 30 X bienal.
Percorrendo a exposição, senti a ausência de obras do
pintor Arcângelo Ianelli. Então, inevitavelmente, vieram-me algumas perguntas:
Porque a ausência de Ianelli? O que norteou o curador para excluir este
importante artista? Ianelli será, por acaso, um desafeto do curador, que tentou
omiti-lo da História da Arte Brasileira?
Hoje, os mais gabaritados estudiosos das Artes Plásticas
no Brasil, os especialistas, educadores, estudantes e parte do público geral
reconhecem o destaque e a importância de Ianelli para a Arte Brasileira.
Como alguns de seus colegas de trabalho, Ianelli
transformou sua pintura, inicialmente figurativa, em abstrata, ainda na década
de 50 do século passado, sob o reflexo das primeiras Bienais de São Paulo.
Naquele início das Bienais, os artistas brasileiros, que em sua maioria ainda
não tinham contato direto com as obras de arte produzidas por importantes nomes
do exterior, viram-se diante de um novo horizonte que levou à mudança na
concepção de suas obras. O abstracionismo foi uma das vertentes que teve
substancial influência entre os pintores brasileiros da época.
Seguindo este caminho, Ianelli aprofundou sua pintura
abstrata, o que lhe rendeu, em 1964, o Prêmio de Viagem ao Exterior concedido
na época pelo XII Salão Nacional de Arte Moderna. Até a data deste prêmio,
Ianelli já havia participado da VI e VII Bienais de São Paulo. Em 1965
participa novamente, agora da VIII Bienal de São Paulo. Depois de dois anos de
estudos e exposições em diferentes centros europeus, Ianelli retorna ao Brasil,
trazendo grandes pinturas que foram expostas na IX Bienal de São Paulo.
Na década de 1970, Ianelli direcionou sua pintura para a
geometrização e participou como um dos principais representantes do movimento
que ficou denominado de “Geometria Sensível”. Este movimento foi um marco
histórico nas artes plásticas da América Latina dos anos 70, e Ianelli, um
destacado representante do mesmo entre os artistas latino-americanos.
Testemunho desta importância está na participação das
Bienais de Medellín, Cidade do México e Cuenca, sendo que no México e no
Equador foi o artista laureado com o grande prêmio de cada uma destas bienais.
Ao lado das bienais, Ianelli foi reconhecido com prêmios da ABCA e de outras
instituições legítimas do mundo das artes. Sua presença na história das artes
no Brasil, e como brasileiro a representar o País no exterior, nos últimos 30
anos, é inegável.
Das trinta edições da Bienal de São Paulo, desde a
primeira em 1951, Ianelli participou de nove delas. Sua presença foi respaldada
por um número considerável de especialistas em arte que o selecionaram e o
convidaram para estas nove bienais, três delas com Sala Especial. A presença do
artista na Arte Brasileira nunca foi furtiva, sua presença foi construída com
mais de 70 anos de trabalho árduo, consistente e consciencioso.
Portanto, ignorar o nome de Arcângelo Ianelli para a
mostra 30 X Bienal é, no mínimo, um desserviço à informação cultural do País.
Centenas de pessoas ávidas por conhecimento circulam em uma exposição desta
importância, estudantes, educadores, gente do mundo das artes, especialistas do
Brasil e do Exterior.
A ausência de grandes nomes, como Ianelli, revela uma
visão particular, individual, desrespeitosa para com o artista. A decisão de
excluí-lo intencionalmente se resguarda no argumento de que a exposição foi
concebida sob o ponto de vista do curador (grifo meu), o que não se sustenta
frente às evidências da história.
Naturalmente, cada um tem o direito de expor suas
concepções e ideias, sob o dever de se responsabilizar por elas. Arcângelo
Ianelli não está mais entre nós para se manifestar diretamente com a Direção da
Bienal de São Paulo e com o curador da mostra. Hoje, cabe a nós realizar esta tarefa.
Como mensagem à Direção e aos Conselheiros da Bienal de
São Paulo, reproduzo o excerto de um texto emblemático que o artista escreveu
por ocasião da notícia, em um jornal de São Paulo, a respeito de uma homenagem
a um galerista: neste pequenino mundo das artes, todos, indistintamente, devem
ser assim homenageados. Críticos, curadores, diretores de museus e de bienais,
marchands e galeristas. Sejam eles quem for, estão, cada um a seu modo, dando
uma valiosa contribuição ao nosso meio artístico.
E os artistas?
E, logo mais, me veio à mente outra pergunta: acaso
existiriam Museus, bienais, galerias, marchands, críticos, curadores, leilões,
colecionadores, mercado de arte, sem os artistas? No entanto, quem se lembra de
homenageá-los e onde estão eles?
Por certo, Manuel Bandeira responderia:
“Estão dormindo
estão todos deitados
dormindo
profundamente.”
Rubens Ianelli
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