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Bienal de São Paulo anula a história da arte e jornal é conivente com a questão

Imagem: Abup

Por Márcia Brasil

Matéria do jornalista e crítico de artes Fabio Cypriano, que destacou o ‘segregacionismo’ da Bienal de São Paulo (leia a matéria abaixo), sofre censura em jornal que omitiu cartas das manifestações da classe artística, de personalidades e também do Ministro Mercadante, em apoio à sua opinião, que denuncia sobre o formato da comemoração 30 X Bienal.

A Bienal São Paulo, desde que foi criada em 1951, teve quase 6.000 participações de nomes nacionais. O evento celebrado 30 X Bienal, com escolha do nome da comemoração, das obras e dos participantes de cunho pessoal, pelo curador Paulo Venâncio Filho, alarmou a sociedade artística que se manifestou contrária ao modelo que se impõe a arte nos dias de hoje. A seleção de 111 desses artistas ocupa o pavilhão da Bienal desde sua inauguração. 

A incoerência recai sobre o curador porque oras diz "pensei no conjunto das obras, tentando respeitar equilíbrios”,  e em outra ocasião alterna numa tentativa de rever as relações entre eles e as correntes históricas que estiveram na mostra. Na publicidade do próprio evento e na mídia a informação segue a última versão. 

Paulo Venâncio Filho foi selecionado pela direção da Bienal como o único responsável pela mostra, que transformou a Bienal num símbolo de decadência e anulação da história da arte, para críticos, artistas de vários segmentos e historiadores. Muitos desses compreendem a boa relação que Venâncio mantém em troca de favores com galeristas e marchands, pois 70% das obras que estão na exposição da Bienal pertencem a dois colecionadores, apenas. Por  esta questão, as escolhas são acentuadas pelo favorecimento ilícito destas relações, segundo críticos. Várias obras nesta mostra nunca foram expostas em outras edições em bienais. O caso é muito sério.

O curador, favorecido por esta ilegalidade, segundo artistas e historiadores, seguiu critérios próprios e pessoais. Disse  "não queria deformar a seleção dando mais nomes de umas ou outras bienais". Venâncio escalou nomes da primeira até a última Bienal, mas desprezou a história da arte, na opinião de muitos historiadores,  de artistas que já tinham uma trajetória consolidada antes da criação da mostra, ou seja, descartou a geração da Semana de Arte de 1922. 

"Pensei no conjunto das obras, tentando respeitar equilíbrios", diz o curador. De fato, sua fala é antagônica, descarta os artistas modernos desde os anos 1950 que, na concepção dos críticos, formou a geração de um projeto artístico e estético nacional, com o início da abstração geométrica, que atinge de forma plena no concretismo paulista e logo depois no neoconcretismo dos cariocas.

O jornalista Fabio Cypriano revela em seu texto enxuto e direto o formato de uma bienal pasteurizada, sem formas porque quebra todo o conceito de arte, contrária aos padrões estéticos para qualquer historiador de arte. 

Cartas de apoio ao jornalista foram omitidas do site, de diversos artistas, personalidades, autoridades e cidadãos comuns, ou seja, censuradas. Uma delas, do Ministro da Educação, Aloísio Mercadante, apontando o seu apoio à matéria do jornalista.

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Veja a matéria do jornalista Fabio Cypriano publicada na Folha de São Paulo

'30 x Bienal' traz recorte óbvio de sua história

Sem ousadia, exposição que remonta a trajetória da instituição não destaca sua importância para a arte brasileira

Fábio Cypriano - Crítico da Folha - Artes plásticas

"Diga conosco BU-RO-CRA-CIA." Esse texto - parte de uma obra sem título de Anna Bella Geiger de 1979 que critica o sistema da arte - é a melhor síntese da mostra "30 x Bienal - Transformações na Arte Brasileira da 1ª à 30ª Edição".

O trabalho de Geiger é um dos 220 de 111 artistas brasileiros selecionados pelo curador Paulo Venâncio Filho, que percorrem 30 edições da Bienal de São Paulo desde sua primeira edição, em 1951.

Contudo, longe de apontar a contribuição da Bienal ao cenário artístico brasileiro, a mostra se resume a uma seleção de artistas já consagrados na historiografia nacional. E, pior, a maioria das obras expostas sequer foi vista de fato na Bienal, além de pertencerem a poucos colecionadores.

Assim, "30 x Bienal" é superficial e desnecessária, já que se resume a um percurso óbvio da produção artística brasileira, que pode ser bastante didático, mas não traz nenhuma pesquisa de fôlego sobre a importância da instituição.

A história das exposições é uma nova área em desenvolvimento e tem sido objeto de muitos estudos. Ela serve para se compreender como os discursos das curadorias podem criar novas formas de percepção da produção artística e lançar debates que suscitem novos caminhos para essa produção.

Sem dúvida, em suas 30 edições, a Bienal foi essencial para o meio artístico brasileiro e motivou muitas transformações.

A 17ª edição, organizada por Walter Zanini em 1983, ressaltou a performance e as novas mídias, enquanto a 18ª edição, organizada por Sheila Leirner, polemizou o retorno da pintura --para ficar apenas em dois exemplos.

Pois os artistas dessas duas edições que participam de "30 x Bienal" não aparecem contextualizados, como se a instituição não tivesse introduzido um importante debate nesse período.

Mesmo uma das poucas obras de porte da mostra, "Ondas Paradas da Probabilidade", de Mira Schendel, é vista sem sua relação com o momento nacional. Ela tomou parte da 10ª edição, de 1969, a chamada Bienal do Boicote, por conta do recrudescimento da ditadura.

As poucas referências à história da Bienal são fotos ampliadas que mostram como algumas obras foram exibidas. É muito pouco para uma instituição tão essencial.

O modelo que Geiger criticava no sistema das artes nos anos 1970, burocratizado, sem pesquisa, sem ousadia, acabou sendo incorporado pela Fundação Bienal.

30 X BIENAL

QUANDO ter., qui., sáb. e dom., das 9h às 18h; qua. e sex., das 9h às 21h; até 8/12
ONDE Pavilhão da Bienal (pq. Ibirapuera, portão 3) 
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO péssimo

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