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Antonio Peticov apoia Rubens Ianelli pela carta de protesto contra a 30 X Bienal

O artista plástico Antonio Peticov, em seu ateliê. Imagem: Folha


Prezado Rubens,
agradeço de coração o fato de você ter escrito e enviado essa carta aos responsáveis por essa organização que já foi esteio e exemplo do que de melhor se fazia em Arte nesse país.


Infelizmente devo usar os verbos no tempo passado, pois a mencionada "organização" hoje mais parece com uma organização para delinquir. Sim, uso essa pesada palavra, pois, se nos anos 60 devíamos ir à Bienal diversas vezes para conseguir absorver seu conteúdo, geralmente denso e repleto de nomes significativos do que de melhor se produzia em termos de Arte no planeta, hoje em dia, ao menos nas últimas Bienais, uma simples "voltinha" pelos andares do prédio - isso quando estão ocupados, como não foi o caso da 'Bienal do Vazio' - já resolve a "obrigatoriedade" que sentimos em ter que ir visitar a Bienal para nos atualizarmos sobre a produção artista nacional e internacional.

Senti-me desabrigado e desamparado quando soube que deixariam um andar inteiro do prédio projetado por Niemeyer 'VAZIO'. Isso quando tínhamos dois artistas moribundos que indiscutivelmente deram incomparável contribuição ao panorama da Arte Brasileira: Arcângelo Ianelli e Wesley Duke Lee.

Que presente teriam os jovens artistas brasileiros se pudessem desfrutar de um andar inteiro da Bienal com as obras desses dois artistas seminais na nossa História?

No dia em que essa Bienal do Vazio se encerrou, fiz, juntamente com um pequeno grupo de artistas, um enterro simbólico, na porta da Bienal, dos dois curadores responsáveis por tal desmande protestando justamente pela oportunidade perdida de se mostrar a obra dos dois artistas acima referidos.

Agora, vítima de conluios políticos e comerciais, assistimos a abertura de uma mostra que poderia - e deveria - compensar por aquela imperdoável lacuna.
Mas, que nada...

Novamente, uma mostra que deveria - assim como seu nome sugere - fazer uma amostragem do que de melhor foi apresentado durante a sua existência, vemos essa "organização" se aproveitar do espaço físico e atemporal da Bienal para promover interesses de galeristas e colecionadores que nenhum respeito tem pela História da Arte Brasileira, cuja verdadeira intenção é alavancar artistas geralmente de escasso e efêmero talento, fáceis de serem manipulados por uma crescente classe de "galeristas" e "curadores" ávidos por um lugar sob os refletores da mídia social.

Uno-me aos protestos da Maria Bonomi, outra gigante de nossa Arte preterida pela organização dessa Bienal, assim como Antonio Henrique Amaral, Tomoshigue Kusuno, Caciporé Torres apenas para mencionar alguns dos tantos excluídos.

Eu expus em três Bienais, o que considero pouco para ser relembrado, mas conhecemos artistas que estiveram presentes em tantas Bienais com trabalhos significativos e que agora parecem nem terem existido.

Desnecessário será lembrar a relação existente entre a atual direção da Bienal com a SPARTE que em sua última edição chegou a publicar um mapa das galerias presentes assinalando claramente quais delas tinham vínculo com a Bienal, que  exibia e promovia obras de seus artistas.

Acho inadmissível esse tipo de "censura" que procura desqualificar e anular a importância que certos artistas tiveram - e ainda tem - na formação da identidade artística brasileira.

O Artista Rubens Ianelli entre suas obras. Imagem: Aldeia
De novo agradeço por esse teu "protesto", esperando que outras vozes se levantem contra esse crescente descalabro envolvendo artistas cujas vidas foram dedicadas à Arte.

Aceite meu fraternal abraço de amizade e admiração
Atenciosamente

Antonio Peticov

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Carta de Rubens Ianelli

Ausência sentida na exposição 30 X bienal

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