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Antonio Henrique Amaral, o artista neo-expressionista da pop art.


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Por Márcia Brasil

"Investigar as paisagens dentro da gente e olhar para fora procurando ver o mundo objetivo. Combinar as paisagens do dentro-fora-aqui-agora. Viajar para dentro e ocupar nossos espaços particulares (de partícula). Essa era a perspectiva do pintor, gravador e desenhista Antonio Henrique Amaral (1935), nos anos 60 e 70, quando inicia sua fase mais conhecida, da série de pinturas em torno das Bananas. Nesta trajetória, o artista concentra toda sua insatisfação com o momento histórico, “(...) e olhar para fora procurando ver o mundo objetivo.” Neste trecho a obra e a fala se complementam dimensionando que arte e vida são entes inseparáveis.


Bananas , 1970. Óleo sobre tela, 170 x 128 cm. Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo

Antonio Henrique Amaral nasceu no ano de 1935, é formado em Direito pela Universidade de São Paulo. Irmão da historiadora e crítica de arte Aracy Amaral (1930), da cineasta Suzana Amaral e da dramaturga, diretora e autora de teatro de animação Ana Maria Amaral e, também, sobrinho da artista modernista Tarsila do Amaral.

Inicia sua formação artística, nos anos 50, na Escola do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, com Sambonet (1924 - 1995)  e gravura com Lívio Abramo (1903 - 1992), do mestre no qual reteve apenas as técnicas  e foi fundamental para sua formação artística, pois ensina a impor disciplina a seu traço.

Também nesta época faz sua primeira exposição individual de gravuras, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1958, viaja para a Argentina e o Chile, onde realiza exposições e entra em contato com Pablo Neruda (1904 - 1973). Em 1959 vai para o Pratt Graphic Institute, em Nova York, onde estuda gravura com Shiko Munakata e W. Rogalsky.  Seu estilo, que já apresenta considerável veia surrealista, é inspirado em artistas como Roberto Matta (1911), Paul Klee (1879 - 1940), Joan Miró (1893 - 1983), entre outros, de quem absorve o equilíbrio entre o automático psíquico e o rigor formal.

A ditadura e a arte

Nos anos 1960, as mudanças de ordem política e cultural marcam seu trabalho pela temática social, que começa a incorporar elementos da gravura popular e a figuração extraída da cultura de massa, como a publicidade e o grafite, aproximando-se também da arte pop. Violência, sexo e política são temas tratados no uso recorrente de imagens de generais e bocas, este passa a ser o nome da sua primeira individual na galeria Astréia, em São Paulo.

A Morte no Sábado - Homenagem a Vladimir Herzog, 1975. Óleo sobre tela, 123 x 165 cm - Coleção do Artista

Desse período, destaca-se ainda o álbum de sete xilogravuras coloridas O Meu e o Seu (1967), no qual revela de forma sintética uma crítica ao autoritarismo vigente no país. Em seguida, Antonio Henrique Amaral publica e lança o álbum com apresentação e texto de Ferreira Gullar (1930) e capa de Rubens Martins. Passa a dedicar-se predominantemente à pintura.

A ditadura foi representada fortemente nos seus trabalhos. Em seu modo particular de ver e sentir as coisas do mundo, o artista revela-nos um discurso que caminha no universo metafórico da linguagem. Momento intrínseco da linguagem verbal e visual que se torna homogêneo,  “combinar as paisagens do dentro-fora-aqui-agora”.  A busca por símbolos que remetam a uma situação, e cujos sentidos são construídos e reiterados no decorrer de suas aparições, é algo constante na produção de Antonio Henrique Amaral.

Como elegeu as bocas e a figura do general, presentes também em suas primeiras pinturas, anos 1960, a banana representou como símbolo a marca principal de seu trabalho. Através dela, o artista revela sua indignação com o momento social do Brasil. A figura da banana é trabalhada em diversas situações, às avessas de uma identidade nacional: solitária e em cachos, transpassadas por cordas, facas ou garfos, maduras, verdes ou apodrecidas.

Como metáfora, a banana refere-se tanto à ditadura militar quanto à posição do Brasil no conjunto dos países democráticos, "ser" brasileiro no momento do slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o", ao mesmo tempo em que retoma uma tradição moderna de representação do caráter nacional que se inicia com a bananeira em Tropical (1917), de Anita Malfatti (1889 - 1964), passando pela pintura A Negra (1923), de Tarsila do Amaral (1886 - 1973), e Bananal (1927), de Lasar Segall (1891 - 1957). Em seu "hiper-realismo" quase fantástico, com enquadramentos fotográficos e abuso de cortes transversais e close-up, Amaral retoma também uma determinada tradição da pintura de natureza-morta, nomes como Albert Eckhout (ca.1610 - ca.1666) e Rufino Tamayo (1899-1991).

Com o passar dos anos, lança mão de outras figuras-símbolo em sua pintura, criando séries com base no garfo, no bambu, em seios enormes e torsos, na mata e urbe estilizadas. Em rotação, tais signos adquirem "novos significados em função do encadeamento de fases e épocas de sua pintura e do relacionamento de sua obra com a realidade do país e do mundo".

Trabalha como assistente na Galeria Bonino no Rio de Janeiro, quando volta ao Brasil em 1960, conhece Ivan Serpa (1923 - 1973), Candido Portinari (1903 - 1962), Antonio Bandeira (1922 - 1967), Djanira (1914 - 1979) e Oswaldo Goeldi (1895 - 1961). Paralelamente à carreira artística, atua como redator publicitário.

Em 1971, ganha o prêmio de viagem ao exterior no Salão de Arte Moderna no Rio de Janeiro. Executa o painel Bananas para a Sociedade Harmonia de Tênis, em São Paulo.  Recebe o Prêmio APCA de melhor exposição do ano Com o prêmio instala-se em Nova York de onde retorna em 1981.

Expressionismo brasileiro e a fase dos anos 1980

 
Em São Paulo, Amaral participa da 18ª Bienal de São Paulo, em 1985. Nesta nova fase, o artista apresenta seus trabalhos numa linha neo-expressionista. Para que o público compreendesse e ao mesmo tempo tomasse contato com o melhor do expressionismo nacional, foi organizada uma extensa mostra, que serviu de ponte entre o passado (expressionismo) e a pintura dos anos 80 (neo-expressionismo).


Brasiliana nº 9, 1969. Óleo sobre duratex, 104,9 x 122,3. Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo

Das instalações nesta edição na Bienal, inaugurada com o título de Expressionismo no Brasil, na apresentação de heranças e afinidades, os curadores Ivo Mesquita e Sheila Lerner e a comissão de arte e cultura procuraram apresentar didaticamente um histórico do movimento, com trabalhos de Iberê Camargo, Antonio Bandeira, Flávio Shiró, Lasar Segall, entre outros. O objetivo desta exposição  era apresentar uma visão do Expressionismo desde a Arte Moderna de 1922.

Neste momento, Antonio Henrique Amaral mostrou três trabalhos daquele mesmo ano e manifestava uma clara vocação pop, destaque para Brasiliana (imagem). Roberto Pontual ressaltou a figuração das obras destacada de Amaral, do início dos anos 60, como denúncias da crueldade humana em sátira desenvolvida pelos seus trabalhos, com o Neo-expressionismo. A atmosfera pop-art, na utilização de xilogravuras, enfatizou os processos de mecanismos perversos da ditadura e dos processos de massificação, lembra Pontual.

Antonio Henrique Amaral, ao longo dos últimos 40 anos vem realizando diversas exposições individuais e tem participado de mostras coletivas no Brasil e no exterior. Sua obra está representada em coleções particulares, públicas brasileiras e estrangeiras. Relembrar do artista Amaral com toda a sua importância histórica e social nas artes, na celebração do 30X Bienal o desprezo ao seu trabalho foi uma falha gravíssima do curador já destacado neste blog, leia aqui.

Seu trabalho é frequente e expoente. O artista executa o painel Mural na Estrada, El Tigre - Ciudad Bolívar, na Venezuela, em 1982. Atua como artista residente na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp e recebe o Prêmio APCA de melhor exposição de 1985, em 1986. Participa do Concurso Painel Bandeirantes com o painel São Paulo - Brasil: Criação, Expansão e Desenvolvimento - 1º prêmio, 1989. Nos anos 1990, participa da 2ª Bienal Internacional de Makurasaki, Japão e conquista o prêmio especial de júri com a pintura Warm Wind, em 1991, em 1992, recebe o prêmio Projeto ECO Art - Bozano Simonsen, conferido pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ.

Coleções Públicas

Brasil

MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo.
Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo MAC-USP, São Paulo.
Parlamento Latino Americano - Memorial da America Latina, São Paulo.
Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo, São Paulo.
Museu de Arte Brasileira-FAAP - Faculdade Armando Alvares Penteado, São Paulo.
Museu de Arte Contemporânea de Campinas, Campinas.
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro-MAM, Rio de Janeiro.
Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Niterói.
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte.
Museu de Arte do Paraná, Curitiba.

América Latina

Museo de Arte Moderno de Bogota, Colômbia.
Museo Rayo, Roldanillo, Colômbia.
El Colegio de Mexico, Mexico DF, México.
Museu de Arte Moderno de Mexico, México DF, México.
Instituto de Arte Moderno, Santiago, Chile.
Museu Nacional de Arte, La Paz, Bolívia.
Museu de Arte Americana, Maldonado, Uruguai.
Casa de Las Americas, Havana, Cuba.

Estados Unidos

Metropolitan Museum of Art, NovaYork.
Fort Lauderdale Museum of Art - Fort Lauderdale,Florida- USA
Rhode Islande Museum, Providence, Massachussets.
Jack S. Blanton Museum of art, Texas University at Austin, Texas.
Art Museum of the Americas, Washington DC.

Europa

Latin American Art Collection, Essex University, Essex, Inglaterra.
Museum of Contemporary Art, Skopje, Macedonia.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá... de onde provêm essas informações? de algum livro biográfico, entrevista com o artista? Gostaria muito de saber as fontes originais! Obrigada.

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